Novo acordo ortográfico, o que mudou?
O Acordo Ortográfico de 1990 pretende estabelecer uma ortografia oficial única para a língua portuguesa e, assim, melhorar seu status internacional, pondo fim à existência de duas normas ortográficas oficiais: uma no Brasil e outra nos demais países de língua portuguesa. Proponentes do Acordo dão a língua espanhola como um exemplo motivador: o espanhol tem muitas variações, entre a Espanha e a América hispânica, tanto na pronúncia como no vocabulário, mas estão sob a mesma norma ortográfica, regulada pela Associação de Academias de Letras Espanholas.
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O conteúdo e o valor legal do tratado não alcançaram um consenso entre linguistas, filólogos, acadêmicos, jornalistas, escritores, tradutores e figuras das artes, políticos e de negócios das sociedades brasileiras e portuguesas. Portanto, sua aplicação tem sido objeto de divergências por razões linguísticas, políticas, econômicas e jurídicas. Há até quem reivindique a inconstitucionalidade do tratado. Alguns outros afirmam que o Acordo Ortográfico atende principalmente interesses geopolíticos e econômicos do Brasil.
Queiramos ou não, Novo Acordo Ortográfico veio para ficar, e temos que nos adaptar a ele. Vejamos como ele ficou e o que mudou com esse acordo.
O novo acordo ortográfico em números
A adoção da nova ortografia causou mudanças na grafia de cerca de 1,6% das palavras na norma européia (oficial também na África, Ásia e Oceania) e cerca de 0,5% na norma brasileira. A partir de uma base de dados com 135.000 palavras, a percentagem de palavras afetadas (palavras simples que não são entradas flexionadas no dicionário ou vocabulário) ascende a quase 4% na norma europeia. No entanto, esse número inclui as duas palavras que possuem alterações na ortografia, como variantes que devem ser legalmente válidas em toda a Comunidade de Países da Língua Portuguesa.
O que mudou com o novo acordo ortográfico?
A concordância ortográfica de 1990 propôs a eliminação das letras c e p da ortografia europeia/africana sempre que estas são silenciosas, a eliminação da marca de diaerese/trema (ü) da ortografia brasileira e a eliminação do acento agudo dos ditongos éi e ó em palavras paroxítonas. Quanto às grafias divergentes, como anónimo e anônimo, facto e fato, ambas serão consideradas legítimas, segundo o dialeto do autor ou da pessoa a ser transcrita. O acordo também estabelece algumas diretrizes comuns para o uso de hifens e capitalização, o primeiro ainda a ser desenvolvido e fixado em um vocabulário comum. O novo acordo também adicionou três letras (K, W e Y) ao alfabeto português, tornando-o igual ao alfabeto latino básico ISO.
As mudanças do novo acordo ortográfico em detalhes
Detalhando as mudanças do novo acordo ortográfico, vamos explicar uma a uma:
Trema
A trema, antes usada em palavras como frequência, consequência, e outras, deixa de existir. Porém, ainda será usada em nomes próprios estrangeiros, como Hübner, Müller, etc.
Acento agudo
O acento agudo deixa de existir em palavras com ditongo aberto “ei” e “oi” em paroxítonas, que tem a penúltima sílaba pronunciada com maior intensidade. As palavras heroico, assembleia, ideia, são exemplos disso. O acento se conserva em palavras oxítonas e nas monossílabas tônicas que terminam em éi”, “éu” e “ói”, como anéis, fiéis, papéis, pastéis, etc. O acento agudo também deixa de existir em palavras paroxítonas com “i” e “u” tônicos formando uma sequência de duas vogais que pertencem a sílabas diferentes (hiato), como no caso da palavra feiura. O acento continua nas paroxítonas com “i” e “u” quando formarem hiato mas não forma acompanhadas na sílaba ou foram seguidas de “s” ou precedidas de ditongo no gim da palavra, tais como baú, baús, e tuiuiú.
Acento diferencial
Era usado em palavras homônimas, ou seja, palavras iguais mas com significado diferente, tais como pára e para, pêlo e pelo. No novo acordo, a forma correta é a sem acentuação. Continuam recebendo o acento as palavras pôr e pôde, para não haver confusão com os tempos verbais das palavras.
Acento circunflexo
Ele deixa de ser usado na primeira vogal “e” na 3ª pessoa do plural no presente do indicativo ou do subjuntivo em alguns verbos. Exemplos incluem leem, creem, veem, deem, etc. Também desaparece na primeira vogal “o” em palavras que terminam em hiato, como nos exemplos voo, enjoo, perdoo, abençoo, etc.
Hífen
Deixa de ser usado em palavras compostas em que a primeira palavra, também chamada de sufixo, termina com vogal, e o segundo elemento começar com vogal diferente, tais como nos exemplos aeroespacial, autoaprendizagem, autoescola, entre outros. Em palavras compostas com prefiro com o segundo elemento começando com as consoantes “s” ou “r”, as consoantes se duplicam como nos exemplos antirrugas, autorretrato, extrasseco, etc. Continua o uso do hífen em compostos que a segunda palavra começa com a letra “h” e quando o prefixo terminar com a letra “r”, e o segundo elemento começar com “r”, tais como nos exemplos anti-herói, super-homem, inter-relação, pré-história, etc. O hífen também será usado quando a primeira palavra terminar em vogal e a segunda palavra começar com a mesma vogal, como nos exemplos anti-infeccioso, anti-inflacionário, anti-inflamatório, arqui-inimigo, etc. Em palavras compostas que não há mais a noção de composição, o hífen pode ser suprimido, como nos casos das palavras mandachuva, paraquedas. Palavras compostas de espécies botânicas e zoológicas continuam, como no caso das palavras erva-doce e beija-flor.
Ficou alguma dúvida sobre o novo acordo ortográfico? Deixem suas perguntas abaixo, e te ajudaremos a praticar a gramática.
Sobre o autor
André é formado em pedagogia, já tendo dado aulas na educação infantil e atuado como professor e coordenador de cursos de inglês. Entendendo como funciona o processo de aprendizagem, decidiu escrever para o blog Provas Discursivas. Assim, compartilha postagens sobre métodos de estudo, provas, redações, escrita, concursos e muito mais para ajudar seus leitores a aprenderem.
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